sexta-feira, 25 de abril de 2008

Aos visitantes

Amigos que visitaram o blog me fizeram a mesma pergunta: "Como pode alguém que trabalha em uma revista que retrata o universo televisivo pode ser contra a TV?". A resposta é simples: não sou contra a TV. Ao contrário, eu adoro passar algumas horas na frente do aparelho, consumindo seriados, filmes e desenhos. A questão a ser levantada aqui não é apontar a TV como uma vilã ou não na educação das crianças, mas colocar o tema em discussão, mostrando os dois lados da moeda por meio de entrevistas, artigos, matérias e pesquisas – além de dar dicas de programas infantis bacanas que fazem parte do cotidiano minitelespectadores.

Bem, não adianta negar. A TV está mais do que presente nos nossos lares e é preciso saber lidar com isso. Normalmente, os pais costumam atribuir a agressividade ou qualquer outro comportamento fora dos padrões que eles consideram inadequado aos programas e desenhos que seus filhos assistem, sem ter nenhum conhecimento sobre a tal atração. Agora, como qualificar o conteúdo de uma atração infantil como "adequado ou não" à criança sem saber ao menos do que ela trata? Pior ainda é achar que seus pimpolhos são seres totalmente passivos e que aceitam tudo o que a TV lhes apresenta sem questionar. Isso é subestimar a inteligência de seus filhos. Acredite, eles vão surpreendê-los se você lhes pedir para contar sobre seu programa favorito.

Sempre que possível, sente-se com eles no sofá e assistam à atração juntos, discutindo, comentando... Quando nos aproximamos do universo infantil, podemos compreender melhor o que eles estão pensando, sentindo. Sem dúvida perceber o mundo com olhar deles é uma uma experiência fantástica e enriquecedora. E não se esqueça de que a TV não é Recompensa nem Punição. Assim, se você deseja encurtar o tempo que seus filhos passam na frente da TV, não basta impor limites. É preciso, conversar com eles sobre os motivos da restrição, além de lhes dar outras opções para se distraírem, como jogos, passeios ao ar livre, bate-papos em família e livros. Sim, ler também é divertido, aguça a imaginação e traz aventuras inesquecíves.

(Shirley Paradizo)

Seu filho assiste a...

Um dos programas infantis da atualidade que acho bem criativo e que tem muito a ensinar às crianças a partir dos 7 anos é o Mundo da Leitura (quartas, 10h, Canal Futura). Adoro o apresentador, o gato Gali-Leu, e me divirto com suas dicas de livros e viagens literárias. A atração, que está em sua sexta temporada e que incentiva as crianças a lerem, foi criada em 2003 pelo Centro de Referência de Literatura e Multimeios da Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul. Contação de histórias, teatro de animação, poesias e dicas culturais sobre CDs, sites, filmes, livros ou histórias em quadrinhos são apresentadas pelo simpático bichano. Conheça um pouco Gali-Leu por suas próprias palavras:

Como você foi parar no Mundo da Leitura?
GALI-LEU Eu fui criado por um professor meio maluco, que encasquetou de me ensinar a ler. Depois que aprendi, gostei tanto que, quando não tinha livros novos em casa, lia jornal, revista, almanaque, gibi, bula de remédio, lista telefônica ou o que mais aparecesse pela frente. Vendo o meu desespero em encontrar novos materiais para ler, o professor começou a me levar para diversas bibliotecas. Foi assim que conheci o Mundo da Leitura, para onde acabei me mudando, só para ficar mais perto dos livros. E acabei como apresentador do programa.


Você deve conhecer muitos autores e livros. Tem alguma preferência?
Eu leio de tudo, mas o que me fascina mais são as histórias, de qualquer tipo, desde os contos de fadas até os romances. Lendo um enredo, acabo sempre me identificando com um personagem e, de certa forma, vivendo junto com ele todas as aventuras pelas quais passa. Então, é como se tudo aquilo também estivesse acontecendo comigo.


Qual é o critério de escolha das obras que aparecem em cada episódio do programa?
O livro tem que ser bom e precisa contar com potencial para criar novos apaixonados pela leitura. Quem encontra um bom livro, e se descobre a si mesmo nesse livro, nunca mais vai deixar de ler.


Como os pais podem incentivar seus filhos a ler?
Existem muitas formas, mas o essencial é que os pais leiam para os filhos, e também que leiam livros diante deles. Como diz o ditado, o exemplo vale mais do que as palavras.


O que você faz para se divertir?
Eu vou com a Borralheira ao cinema, ao teatro, a um show que esteja rolando... Gostamos muito de respirar arte. Ela purifica os pulmões da gente das cinzas da vida rotineira.


(Shirley Paradizo)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

TV: vilão ou aliado?

Esses dias estava fazendo uma pesquisa na Internet e deparei com um artigo bem interessante, escrito por Vera Lucia Perino Barbosa (Presidente do Instituto Movere). Nele, ela fala que a TV pode ser uma forma de entretenimento saudável para as crianças desde que os pais saibam como "controlar" a brincadeira. Afinal, quem realmente é o vilão nessa história: nós, pais, ou o aparelho? Aqui vai o artigo para você pensar a respeito.

O papel da TV na vida das crianças

A família é a influência mais importante na vida de uma criança, mas a televisão não está muito atrás. A televisão pode nos informar, nos entreter e ensinar. Entretanto, algumas coisas que a TV mostra ou ensina não é adequado às crianças. Os programas e os comerciais de TV mostram freqüentemente a violência, o uso do álcool, drogas e conteúdo sexual, que não são apropriados para crianças ou adolescentes. Estudos mostram que assistir à TV pode levar a um comportamento mais agressivo, menos atividade física, imagem alterada do corpo e maior uso de drogas e álcool. Sabendo como a televisão pode afetar suas crianças e definindo limites, você pode fazer com que a experiência de assistir à TV seja menos prejudicial e bem mais agradável. Você pode não acreditar, mas a televisão afeta de muitas maneiras a vida da sua criança. Portanto, quando sua criança sentar para assistir à TV, considere o seguinte:

Tempo
Crianças nos Estados Unidos assistem por dia 4 horas de TV aproximadamente. Assistindo a filmes e jogando vídeo game só aumenta o tempo gasto em frente à TV. Pode ser tentador usar a TV, os filmes e o videogame para manter seu filho ocupado, mas ele precisa também gastar seu tempo de outras maneiras. Brincar, ler e passar o tempo com amigos e familiares são ações bem mais saudáveis do que sentar em frente à TV.

Aprendendo
A televisão acaba afetando a aprendizagem, isto é, a forma correta para aprender. Os programas de alta qualidade podem ter um efeito positivo na aprendizagem. Os estudos mostram que as crianças na fase pré-escolar que prestam atenção a programas educacionais melhoram em testes de leitura e matemática, do que as crianças que não assistem a estes programas. Quando usada com cuidado, a televisão pode ser uma ferramenta positiva para ajudar a sua criança aprender. Para as crianças mais velhas, os programas de alta qualidade podem trazer benefícios. Entretanto, para as crianças mais novas a história é muito diferente. Os primeiros dois anos da vida são notadamente importantes no crescimento e no desenvolvimento do cérebro. Durante esse tempo, a criança necessita de uma interação positiva com outras crianças e adultos, para dessa forma, desenvolver bem a linguagem e suas habilidades sociais. Aprender a falar e brincar com os outros é mais importante do que assistir TV. Até que mais pesquisas sejam feitas sobre os efeitos da tevê nas crianças muito novas, a Academia Pediátrica Americana não recomenda a televisão para crianças com menos de 2 anos de idade. Para as crianças mais velhas, a Academia recomenda não mais de uma a duas horas por o dia. Existem muitas maneiras de os pais ajudarem seus filhos a desenvolverem bons hábitos para assistir TV.

Defina limites
Defina o tempo de uso para TV, videogame e computador para não mais do que duas horas ao dia. Não deixe sua criança assistir à TV enquanto faz a lição de casa. Não coloque uma televisão no quarto do seu filho.

Planeje o que sua criança vai assistir
Em vez de ficar mudando de canal, tenha em mãos um guia para poder ajudá-lo a escolher os programas certos para sua criança. Ligue a tevê para assistir ao programa escolhido e desligue-a quando o programa terminar.

Assista à TV com seu filho
Sempre que possível, assista à TV com sua criança e converse sobre o que você está assistindo. Se sua criança for muito nova, ela não vai saber a diferença entre um show, um comercial, um desenho ou vida real. Explique que os personagens na TV não são reais. Alguns programas "baseados na realidade" podem parecer "reais", mas a maioria deles serve para atrair a atenção dos telespectadores. Boa parte do conteúdo desses programas não é aconselhável para as crianças. As transmissões de notícias contêm também material violento ou impróprio. Se você não tiver tempo de assistir à TV com sua criança, preste atenção naquilo que ela viu para que mais tarde você possa conversar com ela. Melhor ainda, grave o programa de modo que você possa assistir com sua criança no horário apropriado para você. Pense sempre na qualidade do tempo que você passa com sua criança.

Encontre uma mensagem correta
Mesmo um programa ruim pode se tornar uma experiência de aprendizado se você ajudar sua criança a encontrar a mensagem certa. Alguns programas da televisão podem criar estereótipos de alguns povos ou pessoas. Converse com sua criança sobre o papel real das mulheres, dos mais velhos e de outras pessoas de outras raças na sociedade que não são apresentados na TV. Ensine que as pessoas, os povos podem ter maneiras diferentes de agir, mas nem por isso são diferentes de nós mesmos. Ajude sua criança aprender a ter tolerância com o outro. Lembre-se de, se você não concordar com determinada matéria, pode desligar a tevê ou, então, explicar porque não concorda.

Ajude a sua criança resistir aos comerciais
Não espere que sua criança seja capaz de resistir aos comerciais de brinquedos, doces, snacks, cereais, bebidas ou programas novos de tevê sem sua ajuda. Quando sua criança pede produtos anunciados na tevê, explique que a finalidade dos comerciais é fazer com que as pessoas queiram coisas que muitas vezes não precisam. Tente limitar o número de comerciais que sua criança vê mudando de canal ou conversando com ela nos intervalos comerciais. Você também pode gravar os programas tirar os comerciais ou comprar vídeos ou DVDS, assim ela assistirá programas educativos sem ser bombardeada por comerciais.

Procure vídeos ou DVDs de qualidade para suas crianças
Há muitos videos e DVDs de qualidade disponível para as crianças que você pode comprar ou alugar. Verifique antes de comprar ou de alugar programas ou filmes que possam acrescentar algo para sua criança. Essas informações estão disponíveis em livros, jornais e também na Internet.

Ofereça outras opções
Não deixe que a tevê transforme-se em um hábito para sua criança. Ajude-a encontrar outras coisas para fazer com seu tempo, tal como jogar, ler, aprender um esporte, um instrumento ou usar esse tempo para ficar com família, amigos ou vizinhos. Seja você um bom exemplo Você é o modelo mais importante na vida da sua criança. Limitar seu próprio tempo assistindo à TV, escolher programas com cuidado que ajudarão a sua criança a fazer o mesmo.

Expresse sua visão sobre o que você está assistindo
Quando você gosta ou não gosta de algo que você vê na televisão, faça com que você seja ouvido. Escreva para o canal de tevê, à rede ou ao patrocinador do programa. Os canais, as redes e os patrocinadores costumam prestar atenção no que seu público gosta ou se está insatisfeito. Se você achar que um comercial está sendo desonesto, escreva o nome do produto, em que canal passou e em que horário, e descreva sua preocupação.

* Texto de Vera Lucia Perino Barbosa, publicado originalmente no site do Instituto Movere

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Fique de olho

Recentemente, a ONG Midiativa, em parceria com o Instituto de Pesquisa Multifocus, realizou um estudo com os pais sobre a qualidade da programação infanto-juvenil da televisão brasileira. Dessa pesquisa, resultou o que eles chamaram de Os 10 Mandamentos do que as atrações devem conter para atender corretamente a essa faixa etária:

1. Confirmar valores (transmitir conceitos como respeito à família e ao próximo)
2. Incentivar a auto-estima (não reforçar preconceitos nem estereótipos)
3. Preparar para a vida (propor temas importantes para a futura vida profissional e social)
4. Gerar curiosidade (despertar o gosto pelo saber)
5. Não ser apelativo (não banalizar a sexualidade nem a violência e não incentivar o consumismo)
6. Ser atraente (ter música, ação, humor)
7. Despertar o senso crítico (fazer a criança e o jovem refletir)
8. Mostrar a realidade (apresentar a vida como ela é, apontando os limites e as conseqüências de cada ação)
9. Gerar identificação (mostrar situações próximas das vivências das crianças e dos jovens)
10. Ter fantasia (estimular a brincadeira e fazer sonhar)

Seu filho assiste a...

Space Goofs (segunda a sexta, 22h, Jetix) - Exibida pela primeira vez em 1997, a série animada francesa Space Goofs é indicada para crianças a partir dos 7 anos. É um desenho hilário, esquisito e traz deliciosas referências ao universo pop – destaque para a música-tema Monster Men, de Iggy Pop. Ou seja, tem ingredientes de sobra para agradar tanto as crianças como os adultos. Ele narra as aventuras de quatro alienígenas e suas fracassadas tentativas de retornar ao seu planeta de origem. Tudo começa em 1998, quando Candy, Bird, Gorgeous e Etno saem de férias pelo espaço, sofrem um acidente e caem na Terra. Forçados a se esconder dos humanos, eles passaram a morar em um sótão de uma casa abandonada, impossível de ser alugada devido aos sustos que os candidatos a inquilinos levam com as brincadeiras dos inquietos extraterrestres. Desde que se mudaram para o novo lar, o quarteto dedica seu tempo a estudar os ridículos hábitos dos seres humanos.

A partir do ponto de vista dos Space Goofs, os humanos são criaturas estranhas que gostam de colocar o dedo no nariz, de se coçar e mastigar um material cor-de-rosa para fazer curiosas bolas que costumam explodir e grudar em seu rosto. Investigar os humanos, porém, trouxe-lhes alguns vícios em suas vidas. Os ETs acabaram se tornando fãs da culinária e dos programas de TV terrestres, como Desperate Housewives, disputando a tapas um espaço no sofá para acompanhar os episódios. Afinal, todos precisam de diversão de vez em quando, até mesmo os seres do espaço.

(Shirley Paradizo)

Diversão em família

Aristogatas: Edição Especial (R$ 39,90, Buena Vista) - Primeiro longa animado da Disney realizado após a morte do criador do estúdio, o clássico Aristogatas é desenho bacana para assistir ao lado das crianças. Tem aventura, personagens carismáticos e uma trilha sonora bem cuidada. A história se passa em Paris, quando uma excêntrica e milionária senhora deixa toda a sua fortuna para seus amáveis gatinhos de estimação – a elegante gata branca Duquesa e seus filhotes Mary, Toulouse e Berlioz. A caridade não agrada o mordomo da casa, que seqüestra os bichanos e abandona-os no interior da França para, assim, se tornar o herdeiro. Em sua jornada de volta ao lar, os felinos fazem amizades com os mais diversos animais do subúrbio, como o charmoso gato vira-lata Matinhos e uma banda de jazz exclusiva para bichanos.

(Shirley Paradizo)

Programa legal

Até a alguns anos atrás, um dos maiores sonhos das crianças era terem à sua disposição um canal que exibisse, dia e noite, desenhos. A chegada da TV por assinatura realizou esse pedido, com uma grande oferta de canais que oferecem atrações para os pequenos. A diversificação da programação é enorme: animações contemporâneas e clássicas, séries em formato com atores, programas feitos e dedicados a crianças e adolescentes e os famosos animês – desenhos japoneses que viraram febre entre a garotada nos últimos anos.

Segundo pesquisa realizada recentemente pela NET, na maioria dos lares de hoje, o aparelho de televisão com TV a cabo faz parte da decoração do quarto dos pequenos, que assistem, livremente, aos canis infantis, sem muita interferência dos adultos, ocupados com o trabalho e os afazeres de casa. "Para os pais, a televisão é um lazer tanto para eles como para seus filhos, mas eles se preocupam, e muito, se os programas e os desenhos aos quais as crianças assistem são adequados para sua idade", diz Fernando Magalhães, diretor de programação da NET Brasil. Uma perturbação até relevante, já que, de acordo com o Ibope, os jovens espectadores passam cerca de 3 horas de seu dia na frente da telinha.

Aos olhos dos adultos, a grande preocupação está nas séries animadas com maior incidência de lutas e violência, que, de acordo com os pais, podem tornar seus pimpolhos mais agressivos. "A crianças têm a necessidade de expressar uma série de sentimentos, inclusive a violência. E não existe pesquisa conclusiva e determinante que consiga afirmar, com todas as letras, a influência desses programas nas crianças", fala a psicanalista Ana Olmos. Os desenhos com monstros e fantasmas também estão na mira dos adultos. "Crianças mais novas, entre 5 e 6 anos, têm dificuldades com o suspense, personagens que parecem realmente em perigo, rostos realistas com expressão de raiva, dor ou medo. Por isso, é preciso considerar esses elementos ao decidir o que disponibilizar para cada faixa etária", diz Gerard Jones, autor do livro Brincando de Matar Monstros, que fala da relação entre as diversões juvenis, como videogames e a TV, e o desenvolvimento emocional e intelectual das crianças.

Se elas insistirem em assistir a programas que os pais consideram impróprio para sua idade, a saída é a proibição ou mesmo o bloqueio do canal indesejado. "É importante, porém, explicar as razões da proibição e oferecer outras alternativas", fala Ana Olmos. E, aí, surge novo problema. Segundo pesquisa da NET, os pais não têm o costume nem paciência de conhecer os desenhos que acompanham o dia-a-dia de seus filhos para ajudá-los na escolha. "Se não conhecem, não faz sentido proibir. A regra de conhecer os amigos e o que estão acessando no computador, deve valer também ao que estão assistindo", diz Ana. O primeiro passo para fazer essa é escolha é acompanhando, ao lado da criança, a atração e ficar de olho: "Os desenhos e os programas antes de mais nada devem divertir e não causar medo ou qualquer outro sentimento ruim. Não podem ser preconceituosos, ter personagens estereotipados, trazer conceitos errados, como, por exemplo, que tudo se resolve na força", diz Bia Rosemberg, diretora de programação da TV Cultura.

* Texto de Shirley Paradizo, publicado originalmente na revista MONET, edição 40, jullho/2006