quinta-feira, 22 de maio de 2008

O que seu filho assiste...

E se alguns clássicos personagens de histórias em quadrinhos e desenhos animados infantis envelhecessem e, atualmente, aparentassem visualmente sua idade editorial?

O resultado seria o mostrado na imagem ao lado. A ilustração foi apresentada em um artigo publicado na edição de maio da revista Spirit Magazine, distribuída nos vôos da companhia norte-americana de aviação Southwest Airlines.

No texto, o jornalista Winston O'Grady narra sua maratona de 24 horas assistindo a desenhos animados na TV, a fim de saber o que as crianças andam vendo nos canais dedicados a elas.


Além de explanar considerações sobre o abismo (com exceções) entre a adequação de conteúdo das produções antigas e as atuais - que mostram o quanto as crianças estão sendo bombardeadas por valores contrários aos que aprendem em casa - o artigo leva o leitor a uma desconcertante verdade: o público infantil de hoje desconhece ou não gosta das animações clássicas que marcaram a infância de seus pais e avós.


Isso deve explicar o que, munido de detalhados gráficos publicados por institutos de pesquisas, O'Grady mostra no texto: a maior fatia de investimento publicitário para crianças e tweens (faixa etária entre a infantil e a adolescente) está no canal Nickelodeon, cuja programação abrange apenas produções contemporâneas.

Em segundo lugar na preferência dos anunciantes vem o Cartoon Network, que exibe atrações novas e antigas. Na penúltima colocação da lista ficou a Disney, com seus desenhos animados tradicionais.

Ou seja, a força de Super Mouse, Pernalonga, Popeye, Mickey Mouse e de grande parte de outros personagens que por décadas vinham caindo nas graças das crianças já não é mais a mesma. A geração 2000 tratou de descartar essa galeria, sem a menor piedade.

Como a imensa maioria das atrações dos programas infantis na televisão do Brasil é, por tradição, composta de produções dos Estados Unidos, esses dados podem ser facilmente aplicados à realidade do País.

Na enquete que o site UOL Crianças está realizando, essa constatação fica clara. Para a pergunta "Desenhos animados: Qual deveria virar filme live action?", são apresentadas 23 opções. Mas somente sete se referem a criações com mais de 20 anos de existência - o mais antigo é o cão Snoopy. Até o fechamento desta nota, Naruto e Cavaleiros do Zodíaco lideravam a votação.

Pelo menos uma exceção pode ser notada no Brasil. Episódios clássicos de O Pica-Pau têm feito sucesso na TV Record desde 2006, quando a série entrou na programação da emissora e virou fenômeno de audiência, embora uma significativa queda nos últimos meses - resultante do desgaste das reprises - tenha forçado mudanças nos horários e dias de exibição durante a semana. Mas faltam registros concretos sobre a real maioria do público do desenho animado, que tem atraído adultos saudosistas ao mesmo tempo em que está despertando o interesse dos telespectadores mirins.


Rejuvenescido diante das novas gerações, o Pica-Pau teve a chance de mostrar que as animações antigas ainda garantem uma boa dose de diversão.

Por outro lado, os personagens "fisicamente" envelhecidos que o artigo de Winston O'Grady usou de forma criativa para mostrar o quanto eles ficaram ultrapassados podem até parecer divertidos. Mas, para os fãs veteranos, de tão contundente a imagem passa a impressão de que é assim mesmo como as crianças os vêem hoje.


* Texto de
Marcus Ramone, publicado originalmente no site Universo HQ (achei o artigo, no mínimo, interessante e por isso decidi compartilhá-lo com você. Vale dar uma olhada no artigo original que inspirou texto de Marcus, na página da revista Spirit Magazine)

terça-feira, 20 de maio de 2008

Proteção à criança

A televisão brasileira, desde julho de 2007, adota um novo sistema de informação para classificar seus programas, em cumprimento à Portaria nº 1.220 do Ministério da Justiça, que atende aos termos nos caput do art. 74 da Lei 8.069, de 11 de julho de 1990, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A nova lei tem como finalidade informar aos pais a idade mínima recomendada a cada programa antes de eles entrarem no ar. As emissoras ainda são obrigadas a seguir uma grade horária para apresentar alguns conteúdos. De acordo com as novas regras, a programação entre as 7h e 19h é livre, ou seja, é permitida para todas as idades. A partir das 20h, fica restrita para jovens acima de 12 anos, e das 21h em diante, a idade limite é 14 anos. Já a partir das 22h, os programas só são permitidos para maiores de 16 anos e, a partir das 23h, somente para maiores de 18 anos.

Desde que entrou vigor, os canais precisam colocar em suas atrações os símbolos indicativos no canto da tela, mostrando restrições para conteúdos permitidos para crianças de 10 e 12 anos e adolescentes de 14, 16 e 18. Haverá também indicação quando o programa for livre. As TVs por assinatura não estão sujeita às regras de horários. Elas apenas precisam informar qual é a classificação da atração exibida, mas não têm de seguir os horários especificados à TV aberta, visto que os pais têm a liberdade de escolher os programas que desejam assinar. Os programas jornalísticos, esportivos e a publicidade em geral também não estão sujeitas à classificação.

Para esclarecer os pais e o telespectador, o Ministério da Justiça lançou na época um manual com tira-dúvidas e com os símbolos obrigatórios. Essa cartilha pode ser encontrada online no site da Andi (Agência Nacional dos Direitos da Criança). O endereço é bem bacana e traz informações diversas sobre o assunto, como folders para downloads, além de diversos outros temas relacionados à criança e de como protegê-la de conteúdos audiovisuais inadequados. Vale sua visita.


(shirley paradizo)



Fonte: Andi

sexta-feira, 16 de maio de 2008

TV engorda?

Recentemente, a Universidade de Havard, nos EUA, fez uma pesquisa que relaciona a falta de sono e o uso excessivo da TV leva à obesidade em bebês e crianças. Os pesquisadores descobriram que crianças que dormem menos de 12 horas e assistem à TV mais de duas horas por dia têm 16% de chances de ficarem obesos. Já o risco aquelas que dormem mais e assistem menos à TV é de apenas 1%. O estudo, realizado com 915 crianças e publicado na revista especializada Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine, sugeriram que a falta de sono pode aumentar o risco de problemas com o peso, pois estimula os hormônios que influenciam o apetite, levando as crianças a comerem mais. Além disso, o maior tempo em frente à telinha leva à maior exposição a propagandas de junk food, piorando a dieta dos pequenos. Apesar da revelação, os estudiosos afirmam que ainda é preciso realizar mais pesquisar para se chegar a uma conclusão definitiva. Por enquanto, eles aconselham aos pais retirarem os aparelhos dos quartos dos pimpolhos e encorajarem uma melhor qualidade do sono.

Fonte: G1

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Uma frase...

"Demorou muito tempo até que se desse conta de que as crianças não são homens ou mulheres em dimensões reduzidas. As crianças criam para si, brincando, o pequeno mundo próprio."

(walter benjamin)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Para não dizer que não falei de coelhos

O elegante Edward Tulane é um coelho amado e exageradamente mimado pela menina Abilene. Quase todo de porcelana (só suas orelhas e o rabo fofo são revestidos de pele de coelho de verdade), Edward, um dia, é obrigado a viajar e acaba sendo literalmente lançado ao mar, mergulhando na longa e difícil aventura do auto-conhecimento. A Extraordinária Jornada de Edward Tulane (Editora Martins Fontes) foi um dos livros que li por indicação da Paula, uma menina encantadora, estudante do colégio Santo Inácio, com quem fiquei conversando um tempão sobre livros certo dia na Livraria da Vila. Não é difícil adivinhar o que vai acontecer e como termina a jornada heróica e transformadora do coelho de porcelana, mas o texto da americana Kate DiCamillo (traduzido por Luzia Aparecida dos Santos) é delicado, emociona na medida e dá o recado sem escorregar na pieguice. As lindas ilustrações de Bagram Ibatoulline seguem o mesmo tom. Fiquei com vontade de ler O Tigre, da mesma autora.

(silvana tavano)

* Esta indicação de livro da Silvana Tavano foi publicada em seu blog, Diários da Bicicleta, e ela me permitiu reproduzir aqui. Além do blog, a amiga e jornalista – que eu admiro muito – é editora da revista MARIE CLAIRE e autora de uma série de livros que contam as aventuras da bruxinha Creuza.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Publicidade na TV no horário infantil

Desde a invenção da televisão e seu lançamento no mercado brasileiro, há mais de 50 anos, não se ouve falar tanto sobre tal meio de comunicação e sua influência no comportamento humano, sobretudo na infância, quanto nas últimas décadas. Esse fato pode ser confirmado pela divulgação de inúmeras pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Brasil, Austrália e grande parte da Europa, onde se observa a crescente preocupação de pais, educadores e da comunidade científica com o fenômeno social da televisão e seus possíveis efeitos na infância. Tal preocupação é recorrente de constatações realizadas por agências de pesquisas que apontaram como dados significativos, referentes à relação TV-infância, a presença da TV na maioria dos lares no mundo inteiro, o grande número de horas dispensadas pelas crianças diante de um televisor, além dos inúmeros questionamentos sobre a qualidade da programação da TV (em especial a aberta).

Informações como essas provocam a indignação das pessoas preocupadas com os valores e os estereótipos exibidos nos mais variados conteúdos televisivos, principalmente o publicitário. Cabe lembrar que uma das preocupações de alguns cientistas sociais diz respeito à forma como a publicidade se apresenta diante dos pequenos telespectadores. O caráter atrativo da publicidade e o sensacionalismo, que várias emissoras de TV usam para conquistar audiência, é algo muito discutido pela sociedade, pelos governos, instituições e ONGs [organizações não-governamentais]. Freqüentemente, os padrões de produção das propagandas são iguais ou até melhores que alguns programas e, como conseqüência, seu impacto na atenção e na audiência não poderia ser subestimado ou ignorado.

Constata-se, então, que, muitas vezes, a publicidade se utiliza de recursos, como os efeitos especiais pela computação gráfica, não somente como forma de valorizar o seu produto, mas também para influenciar as crenças e valores de uma sociedade, tornando-se uma persuasão implícita para o consumo de um produto. Dados significativos revelados por pesquisadores americanos e europeus mostram que desde os 6 meses de idade pode-se observar nas crianças as primeiras condutas de atenção à televisão. As mudanças rápidas de imagem e som, sobretudo nos anúncios, e o próprio formato da televisão as motivam muito. No entanto, isso não significa que, na tenra infância, elas sejam capazes, por exemplo, de compreender uma narração televisiva, ou a intenção de um anúncio publicitário.

A possibilidade de qualquer criança, mesmo antes de falar ou de começar a ler e escrever, assistir à TV e prestar atenção nela durante um determinado período de tempo contribui para a convicção de que esse veículo de comunicação é extremamente simples e de fácil acesso, voltado para o lazer. Essa visão ingênua - questão discutida em vários fóruns mundiais e no Brasil, em 2003, por ocasião da 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes - negligencia a necessidade atual de educar as crianças e adolescentes para a mídia, como forma de ensiná-los a exercer sua cidadania.

Entre os frutos de discussões como essa se encontra o trabalho de alfabetização televisiva, objeto de estudo na minha tese de doutorado - que conta com a orientação da professora doutora Orly Zucatto Mantovani de Assis e feita pela Faculdade de Educação da Unicamp -, na qual eu defendo a compreensão da linguagem televisiva e a necessidade do uso pedagógico da TV em sala de aula, propiciando ao aluno a vivência de situações com a mídia que o tornem, entre outras coisas, mais crítico e menos vulnerável às questões publicitárias. A publicidade na TV requer regras específicas. Muitas redes de televisão no mundo são patrocinadas por propagandas, porém essas sofrem controle mais rígido em alguns países do que em outros. Por exemplo: na Inglaterra e nos Estados Unidos, muitas restrições são feitas à televisão por meio de regras que controlam a proporção de propagandas em cada hora de transmissão e a freqüência com que podem ocorrer em um único programa.

O fato de o mercado brasileiro ter um grande contingente de crianças com maiores possibilidades de consumo fez com que as empresas, interessadas nas vendas e nos lucros que podem obter desse público, desenvolvessem estratégias específicas de marketing e publicidade que não priorizam as questões educativas ou éticas. Sabe-se que os Estados Unidos e muitos países europeus elaboraram diretrizes e procedimentos visando proteger as crianças de ações publicitárias inescrupulosas.

A Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos da criança, adotada em 1989, fornece, no artigo 17, um conjunto de leis que trata do direito da criança à informação e ao acesso às fontes, bem como da necessidade de encorajar o desenvolvimento de orientações apropriadas para proteger a criança de informações e materiais prejudiciais a seu bem-estar. No Brasil, além das diretrizes da ONU, procedimentos semelhantes são amparados por normas que defendem as crianças nas relações de consumo. Entre elas, as encontradas no Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária (Conar), elaborado em 1978, no Código Brasileiro de Defesa do Consumidor (CDC) e, mais recentemente, na própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que se mostrou preocupada em instituir novas regras para a divulgação de comerciais de alimentos considerados nutricionalmente inadequados, tanto na TV como no rádio, em horário específico (das 21 às 6h) - além da proibição da produção de qualquer material didático voltado para crianças que inclua ou faça alusão a alimentos e bebidas que integrem a categoria dos não saudáveis.

O cumprimento de normas como essas se traduz em um cuidado com nossas crianças, mas ainda é algo longe do ideal e do necessário, como é possível constatar ao se conhecer a forma como as crianças compreendem o comercial televisivo. Embora ultimamente as propagandas sejam destinadas a manipular o comportamento dos consumidores, o processo de influência depende do que o telespectador sabe sobre o objetivo da propaganda e quanto acredita no que a TV mostra, destacando a existência de duas grandes preocupações de pesquisadores relacionadas ao conhecimento das crianças a respeito das propagandas de TV. A primeira consiste no entendimento da própria criança da proposta da propaganda. A segunda, por sua vez, refere-se às importantes características do nível de compreensão dessas crianças acerca das aparições apresentadas nas propagandas.

Dessa forma, para que as crianças entendam a proposta das propagandas é preciso que elas façam uma série de descrições importantes: distinguir propagandas de programas; lembrar de um patrocinador como fonte da mensagem do comercial, perceber a idéia ou a intenção da mensagem, entender a natureza "simbólica" dos produtos, personagens e representação do contexto do comercial - destacando-se ainda a preocupação com a persuasão, visto que as crianças pequenas não têm consciência desse tipo de proposta, podendo ser facilmente influenciadas por elas. Pesquisas americanas revelam que as crianças menores, que ainda não entendem a intenção persuasiva dos comerciais, tendem a percebê-los como mensagem verdadeira, ao passo que as mais velhas podem discernir tendências persuasivas e expressar atitudes céticas em relação aos comerciais.

Os resultados dessas várias observações indicaram que, abaixo dos 6 anos, a vasta maioria das crianças não pode realmente explicar a proposta de venda na TV. Entre as idades de 7 e 9 anos, grande parte das crianças é capaz de reconhecer e explicar as vendas, contudo, a partir de conhecimentos e exemplos concretos da realidade. Esses dados coincidem com os encontrados no Brasil por pesquisa feita por mim que investigou a compreensão do conteúdo de um comercial televisivo com crianças entre 4 e 11 anos na cidade de Americana, interior de São Paulo, evidenciando uma ampla idéia das representações que os sujeitos apresentam sobre o conteúdo de um comercial televisivo, a televisão e suas funções.

Por fim, pensar a publicidade na TV no horário infantil requer, indiscutivelmente, a participação efetiva do governo, estabelecendo regulamentações específicas para a veiculação de propagandas destinadas ao público infantil, além de uma mobilização da sociedade, exigindo dos órgãos competentes maior seriedade e agilidade nas aplicações de normas e regras, bem como uma reflexão sobre a educação para a mídia como prioridade de formação no século 21, apontando a necessidade de pensar em estratégias educativas que ajudem as crianças (e seus pais e responsáveis) a atentar para a formação de pequenos telespectadores, a fim de que se tornem consumidores mais inteligentes, principalmente dos conteúdos publicitários.

(Ester Cecília F. Baptistella)


* Fonte: Revista Sesc Online